O ambiente na infância

O que te parece ideal para o desenvolvimento e crescimento de uma plantinha: Que ela seja semeada e que acima da semente haja uma terra fofa, não compactada ou que acima da semente haja um duro chão de concreto?

Acredito que muitos já viram plantas saírem do chão do asfalto. Não é incomum. Mas não, esse texto não é sobre plantas, mas sim sobre ambiente.

Winnicott foi um psicanalista que se dedicou a falar sobre o ambiente facilitador. Segundo sua teoria, quando a criança nasce, ela chega já com tendências herdadas que seguem rumo ao desenvolvimento. O ambiente em que a criança deve viver, idealmente, é aquele que irá apenas facilitar para que esse desenvolvimento ocorra sem grandes intercorrências (no sentido de problemáticas).

Utilizando o exemplo que eu iniciei nesse texto, seria como a terra fofa que permite que a semente cumpra seu papel e germine na terra e depois possa crescer sem dificuldades ao penetrar a terra na busca por luz.

Mas, nem sempre é assim. Muitas vezes o que há é um ambiente que não facilita esse processo, nesses casos, a criança terá muito mais dificuldade em se desenvolver, pois ela terá que se esforçar muito mais – no sentido psíquico, lidando com coisas que sua mente não tem maturidade para lidar – ou então terá que reagir contra esse ambiente.

Novamente, podemos utilizar a metáfora da planta, mas agora a planta que, para crescer, precisa romper com o concreto. E, apesar de não conhecer muito do universo das plantas, me parece que ela também terá seu desenvolvimento mais limitado do que teria se estivesse em ambiente apropriado. Assim como acontece com as crianças.

A partir dessa ideia, convido você para refletir sobre as relações e vínculos iniciais na vida de uma criança. O quanto a presença e ausência de um dos pais – mãe ou pai – pode ser significativa para o desenvolvimento de uma criança, além disso, para pensarmos na qualidade das relações quando presentes.


			

Entre o Miojo e a Ceia de Natal


Em muitas famílias, no natal, as pessoas que cozinham (geralmente mulheres), ficam o dia inteiro preparando pratos que levam horas para assar. Para alguns desses pratos, é necessário começar os preparativos dias antes para poder comer naquela noite. Ou seja, demora bastante! Eu lembro de quando eu era criança de querer comer aquilo, mas tinha que esperar, não estava pronto e parecia que não ficava pronto nunca! Bem que podia ser preparado rapidinho, no tempo de um miojo, né?

Fiquei pensando que tantas vezes é exatamente isso que fazemos quando queremos ter mais experiência ou sabedoria em algo, como de uma pessoa 15, 20 anos mais velha. Ou quando pedimos mais maturidade de uma criança, como se ela devesse ter 10 anos a mais emocionalmente?

Caberá aqui a cada um pensar no seu exemplo, acredito que muitos podem se perceber exatamente assim, querendo que a vida entregue uma ceia de natal, um prato demorado e complexo (e melhor em vários sentidos, inclusive nutricionais) no tempo de um miojo (que ainda mente dizendo que fica pronto em 3 minutos e não fica).

Esperar não é tarefa fácil. Talvez, para alguns, seja uma das tarefas mais difíceis de aprender na vida. As coisas não acontecem no tempo que gostaríamos e, muitas vezes, se acontecesse, dariam bem errado.

E para dar conta disso, a “receita” não é das mais agradáveis, é preciso tolerar mesmo. Tolerar a espera, como uma bexiga que tolera o ar dentro dela, se infla e, quando solta o ar, já está menos rígida, esticou e mudou seu formato. Assim como a plasticidade da bexiga, nossa mente também tem plasticidade, nos adaptamos e assim, aprendemos a dar mais conta dos desafios da vida. Dessa forma, podemos até escolher comer o miojo, mas também saber encontrar formas menos angustiantes enquanto esperamos pelas ceias da vida.

Um tempo diferente

Fiz esse blog já há algum tempo. O primeiro post é de 2017, isso faz pouco mais de 6 anos, se considerarmos os meses.
Eu sempre gostei de escrever, mas somente para mim. Resolvi retomar a escrita por aqui porque tenho tido muitos pensamentos que ficam “fervilhando” e acho que pode ser útil para alguém, quem sabe?
No entanto, antes de retomar, eu antecipo duas coisas:
1- A pessoa que escrevia aqui há 6 anos está um bocado diferente (mas você deverá encontrar partes dela por aqui, sem dúvidas).
2- Não tenho a pretensão de fazer dessa página mais uma obrigação, então não irei escrever com uma frequência regular. Posso dizer, no máximo, que minha intenção é aparecer por aqui.

Achei importante postar esse post marcando esses tempos. Certamente não por quem aparecerá por aqui, mas por mim mesma. Uma organização mental que optei em não deixar só no mental.

Ainda que a página sirva somente para organização mental (minha e somente minha), tá valendo, mas, se você aparecer por aqui e me ler, ficarei feliz pela companhia.

Até logo.


O caminho da psicoterapia

É bastante comum me perguntarem como a psicoterapia de orientação psicanalítica pode ajudar.

Bem, de fato não será algo prático como as vezes encontramos em frases de efeito que nos dizem o que fazer, como por exemplo, “quer conquistar algo? Levante e vá, confie em você”. Na verdade, longe disso!

Este aqui é um trabalho que é construído através do pensar. Vou colocar aqui uma analogia que gosto muito para alimentar sua imaginação. Vamos pensar que estamos com vontade de reproduzir uma receita que experimentamos em determinado momento e temos em mente alguma ideia dos ingredientes. Agora vamos supor que conseguimos acertar todos os ingredientes, maravilha, certo? Mas tem um problema, algum tempero está deixando essa receita estranha, não exatamente como tínhamos em mente. Eis que, depois de muito pensar e provar descobrimos que colocamos mais sal do que era necessário. Agora sim! Agora podemos ajustar o sal e chegar ainda mais próximo, talvez acertar a medida perfeita desse prato.

O que isso tem a ver com psicoterapia? É assim que funciona. Descobrimos quais os pontos de ajustes e quais ferramentas internas nós temos para resolver nossas situações cotidianas. Isso as vezes pode trazer um desconforto enorme porque, na verdade, seria muito bom se existisse uma pílula mágica – o que não existe- mas ao mesmo tempo nos dá um poder para nos resolvermos diante de questões angustiantes que antes não tínhamos ideia de como lidar.

Trata-se de um trabalho de médio a longo prazo justamente porque nossa vida está sempre em movimento. Os ganhos são muitos mais do que podemos por na ponta do lápis e as conquistas são realmente deliciosas e duradouras.

A importância dos limites

Quando falamos em limites geralmente pensamos na criação dos filhos. Não são somente as crianças que precisam de limites durante a fase de crescimento, mas também todas as nossas relações. Os limites e regras servem para organizar nosso espaço e nossas mentes.

E que tipo de limites são esses e como aplicar na nossa vida? Por exemplo, vamos supor que você conhece uma pessoa que tende a falar tudo o que pensa sem se importar muito com o que fala para o outro. Essa pessoa pode ser da sua família, um amigo ou até seu chefe. Se você deixar essa pessoa se acomodar e ganhar espaço, essa atitude dela será constante, porém se você encontrar uma maneira não agressiva de dizer a ela que falar ‘tal coisa’ te incomoda, te chateia, você tem a chance de manter a relação muito mais saudável.

Os limites não precisam vir com aspereza, muito pelo contrário, podem ser sutis. Mas vale lembrar que é de extrema importância que você seja claro e fale com seriedade, porque o outro não deverá adivinhar entrelinhas.

É importante mostrar para o outro qual o espaço que ele pode ocupar na sua vida sem abusar e ultrapassar o que é possível e permitido.

Dizer “não” por exemplo é uma maneira de dar limites. Aliás, muitas pessoas deixam de dizer essa simples palavra com medo do outro não gostar e então perder o vínculo. Talvez o outro não goste realmente, mas podemos contar com a maturidade e condição que o outro tem de se frustrar e compreender os espaços que ocupa na sua vida. Porque não se trata de não ser uma pessoa legal, mas se trata de se respeitar o suficiente.

A (falsa) arte de adivinhar

Percebo que um dos maiores motivos nas falhas de comunicação estão nas adivinhações. Para ilustrar melhor, vou dar um exemplo. José pensa em chamar a Silvia para sair, mas não chama porque “sabe” que ela não aceitará o convite. Ou Maria que não fala com Patrícia porque “tem certeza” que Patrícia não gosta dela. Será mesmo que essas pessoas sabem o que pensam saber?

Só podemos saber se alguém irá recusar um convite se fizermos esse convite, assim como só sabemos se a pessoa não gosta de nós se essa pessoa nos disser ou se fizermos algo sabendo que poderia desagradar, mas ainda assim, essa pessoa pode não ter ficado tão magoada quanto teríamos ficado diante de tal situação. Parece óbvio, mas é muito natural e automático esse movimento de adivinhação do que o outro pensa.

O que eu estou dizendo é que se nos colocarmos no lugar do ‘não saber’ nós poderemos abrir caminhos para uma comunicação mais transparente e saudável. Quando “achamos” demais a respeito do que o outro pensa corremos o risco de estarmos nos relacionando mais com características e fantasias nossas do que com quem o outro é de fato. Seria então, uma relação contaminada.

Se você puder se questionar e questionar o outro, você, de repente, pode ter ótimas surpresas. Deixe o outro te falar sobre ele, se a sua adivinhação estiver certa, pode ser uma coincidência. Mas se puder adivinhar menos, você provavelmente irá perceber menos mal-entendidos nas suas relações e, consequentemente, menos chateações.

Por que o psicólogo cobra as faltas?

Na primeira consulta com um psicólogo, além da queixa do paciente e dos motivos que o fazem procurar ajuda de um profissional, um dos assuntos tratados é a forma de cobrança do psicólogo. As vezes algumas pessoas não entendem bem o funcionamento, mesmo depois de explicado. Terapia é um trabalho diferente, não é algo que todo muito já fez e muitas vezes, apesar de conhecer alguém que faz, essa pessoa pode não querer dar muitas informações, o que é natural.

Pois bem, por que o psicólogo cobra as faltas do paciente? Vamos pensar assim, você já alugou um imóvel? Uma casa ou uma sala para um escritório, por exemplo? Se não, você deve imaginar que quando se aluga um imóvel, mesmo que você saia de férias, não haverá desconto por não ter utilizado o local naquele período, certo? Digamos que é mais ou menos assim que funciona o trabalho do psicólogo.

O que, afinal, você está pagando? Você está pagando para manter seu horário fixado na agenda daquele profissional. Então se você se ausenta, você irá arcar com essa falta, da mesma forma que se o psicólogo, por algum motivo, tem a necessidade de desmarcar o horário ele irá arcar com a falta dele. Cada um se responsabiliza por sua falta.

O que pode variar de profissional para profissional, é o acordo de reagendamento. Isso vai acontecer de acordo com as regras de cada profissional. Então, por exemplo, pode-se ser acordado que no caso de a pessoa precisar reagendar com antecedência, por algum motivo importante, o psicólogo poderá liberar seu horário e reservar um novo. Mas isso vai realmente depender do profissional e da forma de trabalho.

É importante também pensar que existe um motivo para que a pessoa precise ter um horário pré-estabelecido e organizado. Aquele horário é de quem ocupa e, o ideal para que o trabalho ocorra bem, é que ele realmente seja ocupado. Então, as regras do consultório são também uma forma de proteção do trabalho analítico.

Você tem mais dúvidas a respeito do trabalho do psicólogo? Entre em contato e envie sua dúvida como dica de postagem.

Quando procurar ajuda de um psicólogo?

Apesar de o tema “psicoterapia” já ter avançado muito e hoje termos mais informação sobre o tópico, ainda existe um pré-conceito quando o assunto é buscar a ajuda de um psicólogo. Muitos ainda acreditam que só faz terapia quem ouve vozes, quem tem doenças psicopatológicas ou aqueles que não sabem como dirigir sua própria vida. Além disso, muitos acreditam que procurar por um psicólogo é sinal de fraqueza, incompetência ou até mesmo drama e infelizmente ainda são os homens quem mais pensam assim e mais sofrem com a ideia de que precisam ser autossuficientes e não devem pedir ajuda. Por outro lado, algumas pessoas acreditam que o psicólogo irá resolver seus problemas como num passe de mágica, com respostas cheias de motivação que irá mudar as características difíceis daquela pessoa, algo parecido com o que os livros de autoajuda oferecem. Mas o que o psicólogo oferece então?

A ideia principal da psicoterapia é a busca do desenvolvimento psíquico daquele que a procura. O papel do psicólogo não é dar respostas, mas sim ajudar aquela pessoa a pensar sobre o assunto que a incomoda para encontrar outras formas de lidar com a situação, dentro daquilo que a pessoa sente que tem condições de realizar, pois a partir do ponto de vista que ninguém é igual a ninguém, o psicólogo irá trabalhar cada caso de forma singular.

E como saber se preciso ou não de psicoterapia? Bom, não é normal sofrer e é importante pensar a partir desse ponto, pois se há algo que nos faz sofrer é algo que vale a pena pensar a respeito. E como a psicoterapia pode ajudar com essas questões que não são vistas como “normais”? Quanto mais nós nos conhecemos, mais nós conhecemos nossos recursos. Por exemplo, hoje nós estamos no auge da era digital e vemos que cada vez mais, celulares, computadores tem recursos que nós muitas vezes nem imaginávamos que pudessem existir. Então vamos pensar que somos como um aparelho celular, cheio de funções, mas nós não sabemos como usar todas, nesse caso, a psicoterapia irá nos ajudar a descobrir essas funções e do que esse “celular”, no caso, a mente, é capaz. Quanto mais conhecemos as funções da nossa mente, mais fácil fica de conviver com pessoas com quem temos dificuldades. Tendemos a ficarmos menos confusos e termos mais facilidade para entender e lidar com as emoções e como nós nos sentimos em nosso dia a dia e isso traz mais facilidade para nos organizarmos, de forma geral, na vida.

No início é difícil falar de situações difíceis de lidar para alguém que não conhecemos, ainda mais quando nunca fizemos uma psicoterapia antes. A boa notícia, é que podemos ir sentindo como anda o nosso vínculo com o profissional e que o psicólogo deve estar ali atento para acolher essa angústia e transformá-la em uma tarefa mais fácil de encarar com o passar do tempo.

Então, se algo dentro de você não está bem acomodado, se algo ou alguma situação está difícil de lidar, procure ajuda. O psicólogo irá te acompanhar de forma bem mais interessante e animadora do que a angústia.

Não diminua a dor do outro, nunca!

A série da Netflix ”13 Reasons why”, trouxe o tema depressão e suicídio com bastante força. Desde então tenho percebido que houve uma movimentação em defesa das pessoas que passam por essas situações, o que eu acho que é muito bom. Mês passado foi o ‘setembro amarelo’, uma campanha contra o suicídio, ou melhor, uma campanha a favor da vida que vem com a ideia de conscientizar e ajudar as pessoas que estão passando por essas dificuldades a não se calarem e pedirem ajuda.

Mas apesar desses movimentos importantíssimos, eu percebo também um outro movimento que prejudica muito essas pessoas que precisam tanto de ajuda. Tenho ouvido muito de pessoas que procuram terapia que ao procurarem familiares, amigos, companheiros (as) para desabafar, pedir ajuda, ao invés de serem ajudados, eles ouvem dessas pessoas que os problemas não são tão graves e que existem pessoas sofrendo por motivos muito mais sérios e não reclamam e ainda dizem que eles deveriam agradecer ao invés de se queixarem. Isso piora o estado dessas pessoas em um nível assustador. Ao invés de ficarem somente com o problema que estão enfrentando, que não é pouco, pois nunca é, eles ainda precisam lidar com a ideia de que são ingratos e fracos, pois são essas as fantasias que acabam surgindo e o mais importante, essas pessoas muitas vezes acabam se sentindo sozinhas, incapazes de serem felizes e acham que não adianta procurar ajuda profissional e ao se verem sem saída elas apelam para o suicídio.

As dores são diferentes, nunca maiores ou menores, tudo vai depender da pessoa e de como ela está preparada para receber essas dificuldades. Não há um termômetro e não devemos rebaixar a dor do outro, as vezes a intenção é mostrar que aquela pessoa é forte e não precisa sofrer por aquele motivo, mas isso pode ser mostrado de outra forma, uma forma mais delicada e amorosa.

Procurar ajuda de um psicólogo não é indício de que a pessoa esteja louca ou que seja fraca. Todos nós precisamos de ajudas diversas, ir ao psicólogo é cuidar da mente com o auxílio de um profissional que estudou e tem uma técnica por trás como ferramenta para ajudar aquela pessoa a aumentar sua capacidade de tolerância e se conhecer profundamente, não estamos falando de doença mental e sim de saúde mental. Da mesma forma que procuramos um médico, dentista, um educador físico, procuramos o psicólogo para cuidar daquilo que temos de tão poderoso que é a nossa mente.

Como ajudar a criança a lidar com a morte

Frequentemente vejo pais e familiares preocupados em como contar a seus filhos sobre a morte de alguém da família, de algum amigo ou até mesmo de um animalzinho de estimação.

Não é raro vermos pais ansiosos correndo atrás de um novo cachorrinho para seus filhos quando um antigo animalzinho da família morre. Geralmente os pais dizem que os filhos estão sofrendo muito e precisam tomar alguma atitude e muitas vezes tentam trocar um animalzinho por outro o mais parecido possível para fingir que nada aconteceu. Claro que se pode comprar ou adotar um novo bichinho e isso provavelmente trará mais alegria para a família e para os pequenos. Mas quando não se abre espaço para o sofrimento que deve ser sentido no momento, sem deixar que os filhos passem por esse processo de luto, pode ser uma forma de mostrar que a morte é “facilmente concertada”, fora a ideia de que os que se vão são facilmente substituídos e essa atitude inclusive dificulta o processo da criança de aprender a lidar com seus sentimentos mais angustiantes.

O mais adequado é conversar com os filhos, mostrar e ajudar a criança a pensar em tudo de bom que ficou daquele animalzinho e, claro, deve ser feito também no caso de mortes de pessoas da família, amigos e conhecidos da criança.

É muito importante que seja dito a verdade às crianças mesmo quando o tema é a morte. As crianças percebem quando há mentiras no ar, elas percebem as pessoas tristes e que as coisas estão diferentes. Fingir que a morte não existe não é uma solução, afinal, a morte é provavelmente a única situação que todos nós encaramos em nossas vidas, por mais difícil que seja não há como fugir dessa realidade e se ela puder ser vivida com amor e acolhimento dos pais, seus filhos crescerão emocionalmente muito mais fortes.

Abaixo segue partes que destaquei de um texto muito interessante sobre este tema. No final deixo disponível a fonte com a matéria toda.

Vendo a filha chorar por dias seguidos depois de contar a ela que a bebê de uma amiga havia falecido, a fisioterapeuta Daniela Vergílio ficou na dúvida se havia tomado a melhor decisão ao dizer a verdade à filha de seis anos.  Talvez tivesse sido melhor dizer que a neném havia melhorado, pensou. A curiosidade da criança surgiu após ver no celular da mãe uma foto da bebê na UTI e despejar um monte de perguntas, até a última: “e agora ela já tá melhor, mamãe?

psicólogo Alexandre Coimbra Amaral, terapeuta familiar que organiza grupos mensais voltados à perda neonatal e gestacional em São Paulo, reforça que não devemos impedir a criança de passar por esse momento. É claro, ele ressalta, que com uma criança de dois anos, por exemplo, é preciso falar de uma forma mais gentil, podendo usar brinquedos e outras formas de comunicação, mas nunca privar a criança de passar por isso: “essa dor e essa vivência também são dela; da forma dela, mas são dela. Ela precisa ter o direito de viver isso”.

Isabela destaca a importância de educarmos as crianças para as perdas, e incluir a morte no ciclo da vida. Não só em casa, mas também nas escolas. “É importante ensinarmos as crianças a lidar com a morte e introduzir as perdas e temas relacionados em escolas de primeira infância”, diz. Esse ensinamento pode ser feito por diversas formas, sem sermos agressivos ou tristes: o ciclo de vida das plantas, a convivência com animais de estimação, os desenhos infantis e os livros, são alguns exemplos.

Por fim, os especialistas aconselham que os adultos não escondam das crianças se estiverem eles próprios tristes ou chorosos. Mas deixem claro que aquela tristeza é por algo que aconteceu na vida dos adultos e que não tem relação com as crianças. Do contrário, sem elementos para interpretar, a criança pode fantasiar e achar que é com ela, que ela fez algo, e ficar angustiada tentando descobrir o que pode fazer para o adulto não ficar mais triste. Mesmo que a criança não tinha contato com quem morreu, se afetou a família ela vai notar e vai tentar interpretar. “Falar ajuda a criança a ficar mais aliviada e a administrar aquele sentimento, além de endereçar a dor para o que realmente é, e não deixá-la criar outras coisas na cabeça para administrar, como ‘fui eu’ ou ‘aconteceu porque eu desejei’, finaliza Isabela.


Dicas para abordar a morte com crianças:

– convivência com animais de estimação

– cultivo de plantinhas

– desenhos animados, como Operação Big Hero e O Rei Leão

– livros que de alguma forma tratem do assunto, como O coração e a garrafa

Fonte: http://vamosfalarsobreoluto.com.br/2017/10/09/como-contar-para-uma-crianca-que-alguem-morreu/#.WduPV6bzIOY.facebook